sábado, 27 de dezembro de 2014

"World Music"


Sou tão interessante quanto qualquer outro sujeito do meu tempo
Um pouco mais, talvez, porque raramente prestava atenção
Nos pequenos cinemas do centro da cidade
Empalideci, por anos
As costas supliciadas, clarão cambaleando, concluía
Errado –, o sol lá fora
Tira um avermelhado de folhas verdes, sabemos e percebemos
Qualquer coisa que as luzes logo vêm
Desmentir –, pôr sob luz diversa
Enfim, particularidades que ignoro
(No centro de particularidades que ignoro)
Porém, se a certos fenômenos tornei-me de fato insuscetível
Outros parecem interessar-me cada vez mais
Cruzo os braços no rebordo, é terrivelmente pitoresco
Achar-se assim num parque gramado
Fazendo planos, procurando uma estação de world music  

sábado, 20 de dezembro de 2014

Dois Poemas em Dezembro

"Façamos votos"

"Só um desejo de nitidez ampara o mundo..."
- Mário de Andrade, do poema "Momento (Abril de 1937)"

Então não estamos exaustos.
As bocas limitam com o mundo
seus embrulhos prateados –, “paga

uma miséria e a burocracia
é interminável. Que mais queriam
neste pé do ano?”. Contração da primavera

até dar com os punhos cerrados
sobre a mesa da cozinha. Solstício.
Os jornais.

Então somos homens ao sol,
não somos?, homens no princípio
de certo peso, desejosos de –,

Coisas caminhadas às claras,
tão distantes de adivinhas quanto
estamos de uma pátria

mãe: Ao dar com os punhos cerrados
sobre a mesa da cozinha, desengasta a palavra
“solstício” de uma folha de jornal

***

Para o Murilo

Certos muros da cidadezinha reflorida
colocarão sua juventude como um problema
incontornável –, 
..........................algo que devo ver.
É pena que isto só me ocorra agora,
meses depois, na fila de uma casa lotérica,
a baita metrópole a meio.

Evocação, coisa fortíssima donde

construo os pés. Por desgraça,
nenhum outro poema me estendia agora o isqueiro.
Não há quem compre sapatos novos,
quem jante com o Dirk Bogarde.
O poema, então, é pagar esta multa,
voltar para casa o quanto antes,
ver se a mãe já conseguiu comer alguma coisa

sábado, 13 de dezembro de 2014

Convite




Passeio um Pouco Grave


Caminho caminho só
a contextura de um museu

acontece vez por outra
pisar numa coruja –, e doer –,
e

maravilhar-se
ante tudo que é vivo,

ante o insepulto.

Caminhando caminhando só
a qualidade da própria atenção

de poucas 
palavras para precisar 
a luz sobre um gramado

a luz repastada no mundo
caminho
caminho só, quem sabe

um dia meus braços não
perdem algo
desta estúpida formalidade