sábado, 20 de dezembro de 2014

Dois Poemas em Dezembro

"Façamos votos"

"Só um desejo de nitidez ampara o mundo..."
- Mário de Andrade, do poema "Momento (Abril de 1937)"

Então não estamos exaustos.
As bocas limitam com o mundo
seus embrulhos prateados –, “paga

uma miséria e a burocracia
é interminável. Que mais queriam
neste pé do ano?”. Contração da primavera

até dar com os punhos cerrados
sobre a mesa da cozinha. Solstício.
Os jornais.

Então somos homens ao sol,
não somos?, homens no princípio
de certo peso, desejosos de –,

Coisas caminhadas às claras,
tão distantes de adivinhas quanto
estamos de uma pátria

mãe: Ao dar com os punhos cerrados
sobre a mesa da cozinha, desengasta a palavra
“solstício” de uma folha de jornal

***

Para o Murilo

Certos muros da cidadezinha reflorida
colocarão sua juventude como um problema
incontornável –, 
..........................algo que devo ver.
É pena que isto só me ocorra agora,
meses depois, na fila de uma casa lotérica,
a baita metrópole a meio.

Evocação, coisa fortíssima donde

construo os pés. Por desgraça,
nenhum outro poema me estendia agora o isqueiro.
Não há quem compre sapatos novos,
quem jante com o Dirk Bogarde.
O poema, então, é pagar esta multa,
voltar para casa o quanto antes,
ver se a mãe já conseguiu comer alguma coisa

Nenhum comentário:

Postar um comentário