Divertimento
Suponha então que seja este o meu último poema
(imagine, na carniça da idade) olho
para o seu rosto, não sei se se refere ao infinito,
que é isto quando
os olhos descrevem uma argola e depois outra,
quando manobra – mas por quê? – os óculos
na vertical,
não sei,
ignoro o número oito.
Suponha agora que sejam estas as minhas últimas palavras.
Não “Josefina” –,
“mais luz!” –,
“já faz muito tempo que não bebo champanhe”,
mas
estas:
“Ignoro o número oito”.
(Neste exato momento um piano caminha lentamente para a Terra).
*
Desastre (Outro Postal)
Este o seu rosto comprido quando o outono entrava
colhia-se um cheiro a peixe
este o seu rosto a oscilar com os números oficiais
toneladas de peixes carregados em caminhões de noite
aos outeiros da periferia
este o seu rosto estampando-se asfáltica água
montanhas trançadas
aquilo que não ejaculava, transparente?
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