domingo, 28 de setembro de 2014

Um Mau Amigo das Viagens


Bom, nada mais absurdo que meu vulto rondando essas rodoviárias do interior do estado, acorcundado sob a mochila grande demais, pernas penduradas de altos bancos de concreto –, balançando, balançando... Mas isto à primeira vista.

Uma agradável sensação – afetação, como quiserem – de continuidades decorre de estar num lugar e, logo em seguida, noutro. Talvez se trate de uma cidade abandonada às pressas, feita para se abandonar às pressas, de improviso, com firmeza de decisão tão absurda quanto a mochila que agora lhe pesa sobre as costas; talvez se trate de uma cidade que – como insiste em dizer aos amigos que lá foram cavar a vida –, nunca lhe fez favor nenhum, muito pelo contrário

Quem sabe? Partidas bem mais improváveis despencam sobre todos, todos os dias, basta olhar em torno. A você, mau amigo das viagens, a quem o simples ato de se deslocar de um canto a outro de um saguão envidraçado parece, no mais das vezes, inteiramente impossível, outro destino não caberia.

E como se não bastasse, ao longo das estradas percorridas de noite espaçam-se lugares ainda menos definitivos. Como é difícil acreditar que cidades inteiras se abrem por detrás das paradas, dos banheiros das paradas, dos sucessivos espelhos em que meu rosto vai se embaçando –, estes banheiros onde invariavelmente se pensa – isto é possível, não eu, eu me movendo é inteiramente possível.

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