domingo, 3 de agosto de 2014

E as atrizes de má morte; Cansado de histórias de sucesso


E as atrizes de má morte

Lenta, excruciante comédia de passar à frente do armarinho três, quatro vezes, que as outras possam ver como vai bem, ainda que nos papéis de travessia sofra infinitamente uma Mérilin, estaca numa pedreira, parada, nada soprando do metrô.

(Salta de um segundo piso a voz da moça a serafins. “É música clássica”. Ah.)

À mostra as raízes pretas, o fraco por Grapette e drops tangerina, também os seus excessos (constataremos) fatais.

À mostra é uma pedreira; o armarinho do outro lado; o sol do meio-dia; os uniformes de que fora despedida na semana anterior.

À mostra os dedos de vime, noutra as mãos de velha, enganchando retrato do único Tom, do único Dick, do único Harry a quem sobremaneira amara.

*

Cansado de histórias de sucesso


Dessa ciganagem de tão longe, o nome improvável que o rádio da cozinha tanto martelara na mãe. Já o pai não parece tão certo quanto o campo geado onde pus os tratores.
Tampouco a chaleira apitando – go West.
Na caçamba de uma perua enlameada, entrechoque de garrafas vazias, vodca barata, cola de uva. Baganas pisadas sobre um tatame preto.
Depois, uma espécie de república.
Quatro ou cinco, gente de viela, conhece nas aulas de teatro. O sexo. Onde ponho tratores também.
“Todo mundo tem uma fase São Paulo.”
A questão é o que vem na sequência, vai vestir as enervadas do eixo.
Eleito oráculo de videolocadora.
Quando me encontra, fala sem derramar do amigo que perdeu a memória. Leva pela orla passear. “Peixinho dourado”.
Passados alguns meses, quebra a boutique em Copacabana. Poucas parcelas de saldar a tatuagem da Piaf.
Recomeçar pela undécima vez.
“Como um gato. Pode me jogar do décimo andar que eu...”
Meamos um expresso no saguão do aeroporto. Tinha conseguido trabalho num longa-metragem de baixo orçamento. Não é lá essas coisas, mas tem que fazer a vidinha. Soa sólido.
Soa sólido também. Não era assim que aquele americano financiava seus projetos autorais?
Seria interessante, enfim, poder falar sem chamar mais ninguém a palácio.
A verdade é que isto não é mais possível.
E agora, para onde vai? o que vai fazer depois?
“Vou ficar velho e morrer esperando as condições ideais”

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