quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Homem Sobrescrito


A começar por um homem. Este –, não ultrapassa uma lauda, o curso de alguns breves parágrafos –, é perfeitamente possível vê-lo pela primeira vez.
Que eu o veja pela primeira vez.
            Ele é conforme —, uma carruagem fantasma? Virá em meu auxílio?
Os senhores nunca têm nada de muito esfíngico a dizer quando venho pedir ajuda para o aluguel, tão logo dobro a esquina improvisam meu antigo quarto em oratório. Passam-se meses, anos me embotando, – tempo ao longo do qual não me lembro de coincidir com nada.
Insisto. É perfeitamente possível vê-lo, isto é, não revê-lo, não guardar deste homem a mais remota lembrança.
Os senhores e seus campos reencarnados; seus olhares de obsidiana compaixão.
Já nada me ocupa tão ferozmente quanto o esforço de não reproduzi-los – aos campos, aos olhares – quando me volto ao homem sobrescrito, a essa pequena dianteira de palavras. Afinal, como gostaria de dizer-lhe – tampouco eu,
tampouco eu enxergo alguma coisa em torno de si
            Com tantas léguas de permeio, é improvável que me faça ouvir. 

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