sábado, 2 de agosto de 2014

Ilegibilidade, II



Um idioma até então desconhecido, sempre nos preocupa a questão – até que ponto conseguiremos chegar “com nossos próprios pés”?

De raro em raro, ele areja um pouco a lição. As intrusões dialógicas, por exemplo.

“Que horas são?”, “estou muito atrasado”, “para que lado é o obelisco?”

Nunca nos adiantamos muito às locuções emergenciais. Não era tão mau professor, contudo, ignorava. Uma emergência pode e frequentemente tomará sobre si termos os mais imprevisíveis.

Meus colegas de classe não atinavam bem com isso. Baliam exaustivamente para o quadro-negro –

“Leve-me ao consulado”, “leve-me ao hospital mais próximo”, “leve-me ao consulado”

O abatalhado do idioma a vir, como um chinelo eclodindo na garganta. Como nos torna imperativos, bárbaros, bárbaros, repitam comigo –

“Eu fiz reservas para hoje”, “eu devo partir às oito”, “eu não entendo o que você quer dizer”

Não era tão mau professor. Era um carrasco, um golpista, um vilão. Não tinha nenhuma alegria no erro. Todos os outros eram um pouco para os lados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário