sexta-feira, 11 de julho de 2014

Furore


Esta é simples, encarnada, não como aquelas que se esgueiram por debaixo da mobília, entre os tacões do sofá, vozes tão esvaídas que sequer vão dar à janela.

É certo que tem andado um pouco desiludido, mas agora as palavras aderem à superfície, escrevem-se, ao passo que as investidas anteriores jamais resultaram em coisa parecida. 

Antes, um cão que ladrava dobradamente para um terreno devoluto. Havia vitrines. Os quintais em declive de velhas senhoras. 

E também o nosso próprio unívoco reflexo no cromo da chaleira. Tal & qual, os assassinos espalhavam-se pela relva baixa e febril, até onde a vista perde notícia. 

Vê-se que era uma noite como outra qualquer. Nada volta de um porão escuro para contestá-lo. A despeito de seus gritos, a casa ia sempre silenciosa.

Hoje ele grita com a certeza de que pode tornar habitada uma casa. Ele grita, meneia os quadris, pinta uma parede de vermelho. Não vivo mais, não amo mais ninguém.

*


Nenhum comentário:

Postar um comentário