quinta-feira, 10 de julho de 2014

Os Hóspedes


Dois anos. Mas parecem dois anos.
Uma família, talvez – todos não-fumantes –
ignoram a insígnia, o serrilhado de dentes
sobre o braço da cadeira
alguém tomará assento. Começará uma história íngreme.

Tudo o que aconteceu foi um trator, 
... uma colheitadeira?”

Telefonam para o saguão. Desejam saber se as janelas só abrem aquele tanto.
O tipo da gente populosa, amável, demanda de muito ar.
Sobre a mesa já não há nada de terrivelmente aceso.
Fumaça, poeira, almofadas esventradas
avivam o espaço, dão a conhecer
as palavras eram – “quem é o protagonista?”.
Inamovível, atravessei a seção de luz, o papel amassado na mão direita.
Ao tentar empurrá-lo pela minúscula abertura da janela, vi subir a ladeira do hotel
um bêbado que enlaçava-se de poste em poste,
berrando... Em cada poste
detinha-se o traste, o bastante para retomar o fôlego
– o quarto não era feito de outra coisa –,
logo arremetia ao seguinte. Teria escapado (o dia seguinte),
não fosse por um enguiço fortuito na porta giratória.
E no dia seguinte, ao café da manhã, alguém se sentirá moderno,
i. e.,
perfeitamente capaz de deitar pelo Salão Topázio uns juízos continentais acerca da vida, de como se deve tocá-la.
(A vida é
A arte é
O amor é
O remorso é)
Uma história íngreme.
As camareiras refaziam, em silêncio, toda manhã.  
“Melhor abrir uma janela”, pensei, acendendo por descuido
o bêbado que abraçava os postes da ladeira
e, sob a minha janela, berrava – “quem é o protagonista?”
Então pude respirar. Vesti o pijama e fixei detidamente o papel de parede, sem compreender muito bem a estampa que se repetia.
Pensei nestes dois anos, sem tampouco compreender a estampa que se repetia.
Pensei – “ser livre, meu amor, livre, a última primavera do significado... !”.

Mudou-se-me o nome de um médico.
O cão, como disse, é recente.

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