sexta-feira, 11 de julho de 2014

Verão (Calistênicos)


Então 
temos dias como este – acorda, à falta 
de termo mais exato, procura acordar, consulta verbetes 
o verão
o verão põe guizos 
o verão um peso em torno 
a vida em seu costume mais chanchadesco
estes dias de todos os lados iluminados 

dá um passeio pelos arredores do terreno e vê, enroscada no arame farpado, uma sombra que reconhece imediatamente como a sua. Assente com a cabeça. Continua a caminhar.

Uma compacta nuvem de 
pendurado a um braço do salgueiro, o saiote enfunado da suicida pregressa
de volta ao jardim, Nicolau-aliás-O-Bode torna a assumir uma postura desfaçada, dissimula sua impaciência servindo-se de mais um copo de sangria.

Ele rabisca numa ficha pautada algumas opções: A Tortura da Vocação, A Vocação Torturante, Vocação e Tortura.

Assente com a cabeça. Continua a caminhar. De volta ao salão de livros, sufoca entre telegramas amáveis. As respostas, igualmente pródigas em bons votos, ele as pousa sem muito lapidá-las sobre uma salva de prata enferrujada. Em seguida – e há que lembrar-se dos guizos – depõe a salva no elevador da copa. Pressiona um botão vermelho; o elevador desce; em seguida, assoma vazio, esfaimado, reclamando sempre mais amabilidades, mais e mais bons votos.    

Ó criança amarfanhada, arrojada como um telegrama sobre a espreguiçadeira de vime
ó bode, traçado carmim no tronco do salgueiro

ó telegramas, ó visitas, ó boa gente que para sempre corre rumo às quadras de tênis

“esperem por mim!”

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