sexta-feira, 11 de julho de 2014

Vida & Martírio


Relatou ao doutor
como vinha reescrevendo,
de uns tempos para cá, o impulso
de escrever. É como se
eu ouvisse um disparo longínquo
em algum lugar da vizinhança,
convém não investigar
a fundo. Cogita brevemente colocar
sua fogueira sobre a moça
sentada na poltrona
logo à frente, acontecia-nos
(a todos) de Groucho adentrar o saloon
e abancar-se ao lado
de um beberrão desmaiado,
perguntar: “Já não fomos apresentados
em Monte Carlo – na noite em que o senhor
estourou os miolos?” O alto da mudez
e petrosidade dela, isto o fez indagar-se
que viera fazer ali dentro
(ela ali, dentro no mundo. Reiteradamente)
nos falam o quanto
são inofensivas as pessoas
que entram em cinemas sem ligar
muita atenção ao que estão levando,
querendo apenas morrer
ou pôr ordem às ideias, o que,
pensando bem,
não seria a primeira mentira. Depois,
reentrado em seu direito, remói-se
por não tê-la apanhado de volta,
porquanto são três os tempos
do fogo: primeiro, o tornar
puro – ao segundo deita-se a ideia
de uma continuidade obreira, um,
por assim dizer, “trabalho” – sendo
o terceiro acarretador de cessações
as mais violentas,
buio omega a tudo abocanhando listas
de pendências, certificados
de vacinação. Ele disse: “não a lonjura e o desperdício
do símbolo, mas”

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